Iniciei a minha história em Barretos em 1994, o arcaico Código Penal era nosso único instrumento legal para defender as mulheres, vítimas de violência. A Lei 9.999/1995, apesar de representar um avanço, classificava tais crimes como de “menor potencial ofensivo”, resultando em penas irrisórias e impunidade.
Somente em 2006, com a chegada da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), tivemos um marco histórico, retirando os crimes contra a mulher da esfera de menor potencial ofensivo e criando mecanismos de proteção mais eficazes, como as Medidas Protetivas de Urgência. Embora ainda haja falhas, a lei representa um grande avanço na luta por justiça e igualdade. As mulheres, antes sujeitas à violência masculina sem consequências, agora têm um instrumento legal que as protege e facilita o fim do ciclo de violência. Quebrando tabus, a delegada aposentada, relembra os obstáculos enfrentados, para encorajar mulheres a se libertarem “Foram muitos, a necessidade de convivermos com uma sociedade oriunda de pensamentos machistas, a necessidade de atuarmos em pé de igualdade com colegas do sexo masculino… Porém, posso garantir que sempre trabalhei com profissionais, minha eterna e querida equipe, que sempre me apoiaram e, sem dúvidas, vestiam a camisa em todos os projetos que propúnhamos durante minha jornada na Delegacia da Mulher de nossa cidade.” afirmou dra. Glaucia. Na oportunidade, ela ressaltou projetos que auxiliariam, para que mulheres, sentissem mais seguras, destacando a implantação de projetos no município “Patrulha Maria da Penha”, voltados ao empoderamento da mulher que auxiliaria muito no cumprimento efetivo da manutenção das medidas protetivas. A luta não cessa, mas todo mundo anda precisando de um respiro para valorizar a trajetória construída até aqui, a mulher já conquistou um grande espaço, o feminismo, não pode ser considerado, um machismo “Não, o feminismo não pode ser considerado um machismo. O feminismo é um movimento que busca a igualdade de gênero, enquanto o machismo é a crença na superioridade dos homens sobre as mulheres. O feminismo visa combater a opressão e a discriminação baseadas no gênero, promovendo direitos iguais para mulheres e homens” afirmou dra. Glaucia. Com grande atuação na política barretense dra. Glaucia destacou o momento atual da mulher na sociedade e na política “Na sociedade, destaco a diferença salarial que ainda é gritante, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres recebem 22% menos em comparação aos homens. Na esfera da política, nossa conquista pelo voto foi marcada por muita violência. Saliento que, durante a Lei “Saraiva” de 1881, apesar do voto ser concedido a todo brasileiro com título científico, a dentista Isabel de Souza Mattos foi impedida de votar pelo mesário. Atualmente, temos vários episódios de violência, de diversos tipos, desde a institucional, aquela que informa sem precisar de palavras que a política não é lugar de mulher. Como exemplo, cito que até 2016 não havia banheiros femininos no plenário do Congresso Nacional. Exemplifico também que, até 2021, a ausência de deputadas federais que estavam em licença maternidade nas votações era considerada falta. Recentemente, tivemos a prática de violência sexual na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), na qual Fernando Cury, deputado do partido Cidadania, assediou a deputada Isa Pena, do PSOL, durante uma sessão. Não nos resta dúvida de que há muito a ser feito para que tenhamos nossos espaços respeitados. Afirmou. Ela ainda destacou o incentivo da mulher barretense na política.
Precisamos urgentemente enfatizar para nossas eleitoras barretenses a importância de termos representantes femininas nos espaços políticos. A mulher precisa se conscientizar de que não há outra forma de buscarmos nossos direitos senão pela participação na política. Em Barretos, representamos 54% do eleitorado, mas não temos nenhuma mulher na câmara municipal, onde as leis municipais são discutidas, elaboradas e aprovadas”, destacou. Para finalizar, a delegada aposentada lembrou o início do dia 8 de março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher. “O 8 de março é uma data emblemática, temos muito a comemorar sim, no entanto, temos que refletir sobre as lutas de nossas antecessoras que perderam a vida por nós mulheres. É hora de retribuirmos dando continuidade a essas lutas, afinal, como disse Marília Gabriela, “vítimas do nosso próprio destino? Não, protagonistas das nossas histórias””. Finalizou dra. Glaucia Simões.